sábado, 1 de janeiro de 2011

Comédia "De pernas pro ar" estreia nos cinemas


O humor da comédia De pernas pro ar é irresistível. Brinca com os dilemas de uma geração a partir da história de uma mulher que tinha tudo para ser bem-sucedida (na vida profissional e em família), mas que não consegue equilibrar estes dois pilares, essenciais para Alice. A protagonista, que Ingrid Guimarães interpreta com talento superior, tem dificuldade em renunciar à meta de funcionária modelo e nessa toada todos os conflitos se estabelecem. Qualquer semelhança com os problemas de um sem-número de mulheres não é mera coincidência. O senso de realidade é o principal ingrediente do filme, dirigido por Roberto Santucci, com produção de Mariza Leão. Em De pernas pro ar, toda picardia está a favor de diversão saborosa e lúdica, mas que entende a complexidade deste embate, sem torná-lo rasteiro.
O inferno astral de Alice começa quando ela se dá conta de que realmente não está conseguindo executar todas as suas atribuições. No trabalho, ela comete erro que resulta em sua demissão e, em casa, o marido João (Bruno Garcia) deixa na secretária eletrônica um recado, avisando que vai deixá-la por um tempo, para que ambos pensem no relacionamento. Para piorar a situação, Alice também conhece pouco a rotina do próprio filho, por não ter tempo para acompanhar o menino em compromissos importantes para ele.
No entorno desta relação dramática, Ingrid se afirma como uma das mais talentosas atrizes cômicas do país. Com todos os elementos para abusar da caricatura, ela faz de Alice uma mulher bastante confusa, mas delicada, generosa e carismática. Chega a provocar no público vontade de lhe apresentar uma daquelas listinhas de prioridades, ensinadas pela milagrosa Supernanny, para organização de rotina. Mas, no caminho inverso das soluções caseiras, é no apartamento da vizinha (Maria Paula) que Alice encontra o caminho.
Num primeiro momento, Alice e Marcela não têm qualquer simpatia uma pela outra. Num gesto de mea-culpa, a workaholic procura Marcela, para um pedido de desculpas. As duas se reconciliam e Alice descobre que a falta de prazer é a chave de suas dificuldades. No filme, a situação aparece representada pela descoberta de Alice de que nunca teve um orgasmo. Mas como afirma seu marido João, a questão não é sexo, ou apenas o sexo. Falta a Alice o reconhecimento de que para tudo há limites, inclusive para as cobranças sociais, familiares e profissionais, e o entendimento de que João não é nenhum príncipe encantado, apesar de ser um marido dedicado e o mocinho da história, na visão do roteirista.
De pernas pro ar tem ritmo, ótimas histórias e excelente inspiração. Poderia ser um tratado feminista, mas não passa de uma divertida maneira de todos – homens e mulheres – olharem-se no espelho para retocarem a maquiagem ou livrarem-se dela, com disposição e o mínimo de autocrítica.
Do Divirta-se

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