domingo, 10 de julho de 2011

O Poti mostra que todo circo tem seu valor

Onde está a magia do circo? No palhaço, nas mágicas, acrobacias? Seria na pipoca ou na maçã caramelada vendida na entrada? A simplicidade das arquibancadas de ferro e da alegria inocente das piadas e números os mais variados, apresentados ao respeitável público, cedeu espaço ao mega espetáculo.
 
O circo virou indústria. Hoje o mágico faz helicóptero aparecer no "palco" milionário, enquanto os velhos picadeiros resistem em periferias, sob a sombra das novidades tecnológicas.
 
O Rio Grande do Norte abriga, atualmente, cerca de quatro circos. Uns vagueiam entre cidades do interior potiguar e outros são fixos, a exemplo do Tropa Trupe, na UFRN. Juntos, cabem no espaço onde está armado o Tihany Spetáculos, à margem da BR 101 - uma verdadeira empresa itinerante vendedora de sonhos. O Circo do Palhaço Facilita, por exemplo, toma o espaço de um terreno de 300 metros quadrados. O do Tropa Trupe, até menos. Talvez servissem apenas como estrutura de entrada para o Circo Tihany.A distância entre a realidade desses dois mundos é gigantesca. Nem o melhor mágico conseguiria encurtar com ilusionismos. Em comum, apenas a intenção de proporcionar risos e entretenimento ao público.
 
Ou em manter números mais tradicionais do circo: o palhaço, as mágicas, o malabarismo e as acrobacias. A maioria também guarda histórias de luta na construção do circo, seja ele coberto por lonas no valor de R$ 40 mil ou um palco onde apenas a cortina que abre para o espetáculo custa R$ 600 mil.
 
A reportagem visitou esses dois universos na manhã de quinta-feira. Eram 8h30 quando encontrou José Milton Mariano da Silva, o Palhaço Facilita, varrendo a frente do terreno onde o circo está armado, no bairro de Igapó, no cruzamento entre ruas pobres, por trás da loja Insinuante.
 
O restante da equipe de 15 pessoas ainda dormia em traileres de seis metros quadrados ou estava fora. Tomam café na casa de conhecidos ou em pousadas e albergues próximos. No Tihany foi preciso agendar entrevista com a assessoria de imprensa local. Meia hora depois, o responsável ainda se encontrava no hotel de luxo e enviou o assessor de imprensa para prestar as informações. São 76 artistas, além de 24 bailarinas estrangeiras. A maioria se hospeda em hotéis cinco estrelas. Em Natal, preferiram pousadas na orla de Ponta Negra.

Números
Os ensaios são de apenas um dia na semana para os dois circos. A prática está no dia-a-dia do espetáculo. Para montar a estrutura, a diferença distoa pouco, também. O Facilita arma tudo em dois dias. O Tihany, mesmo com as toneladas de equipamento, em quatro. A diferença está no número de pessoas na montagem. O Facilita conta com a ajuda da equipe para equilibrar a estrutura tradicional de ferros e panos. O Tihany usa a alta tecnologia e a mão-de-obra de 120 contratados locais, mais empregados próprios.

A dezena de empregados do Circo Facilita se vira quase que literalmente nos 30. O mágico é também o trapezista e o malabarista. Também se vira do lado de fora da lona na venda de guloseimas. Cada artista ali tem seu ponto de comércio: maçã do amor, pipoca, algodão doce... O próprio Facilita é também o domador e malabarista. São cinco famílias ao todo. Cada artista recebe comissão de R$ 200 a R$ 300. A folha salarial do circo não ultrapassa R$ 1,2 mil. As despesas mensais, em torno de R$ 3 mil.

Se o Facilita viaja de um interior ao outro do estado em cinco trailers, o Tihany chegou em Natal com uma frota de 100 veículos, entre carretas, caminhões, picapes, carros e trailers para transporte de 200 toneladas de equipamentos, 1,8 mil metros de tecidos, 50 toneladas de ar-condicionado, além das famílias dos artistas, 20 mil watts de som e 124 luzes robotizadas. Com essa estrutura, tem feito um tour pelo Nordeste brasileiro nos últimos meses. Segundo o assessor de imprensa do Tihany, o custo mensal para manter o circo é de R$ 80 mil. E conta ainda com ajuda financeira de mega empresas via Lei Rouanet, do Governo Federal.

Reais e milhões

Sob a lona de naylon, o espetáculo do Circo Facilita tem início. Os números são os tradicionais e a grande atração é a macaca Xuxa, já com 27 anos. Perguntado quanto tempo ela ainda duraria, a resposta do Facilita nem de longe demonstrou a alegria dos palcos: "Ave, Maria, nem fale isso. Pelo amor de Deus, sei nem o que vai ser de mim". A macaca está com José Milton praticamente desde o início, quando montou seu próprio circo há 29 anos.

No Tihany, o Rollys Royce ano 1950, já pertencente ao primeiro ministro italiano Winston Churchill, vale o equivalente a R$ 2,6 milhões. Na conjuntura do espetáculo, ele serve apenas para levar o mágico e suas assistentes ao palco. É dele um dos números principais: a famosa mágica onde se faz aparecer um helicóptero no palco.

Fonte: DN Online

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