segunda-feira, 25 de julho de 2011

Insetos são nutritivos e saboros, dizem defensores da prática alimentar

Entomofagia é uma palavra que não frequenta o cardápio de conversas da grande maioria dos brasileiros e, para ser mais preciso, nem mesmo a mesa. Simples: entomofagia é a prática de comer insetos, coisa que causa repugnância na maioria. Fora que a simples visão de alguns deles gera, em muitos, um medo quase psicótico. Isso, na nossa concepção de cultura alimentar. Por outro lado, em países como a China e outros, são vistos e deglutidos com naturalidade, como se fossem sacos de pipoca.

Aliás, mais que isso, já que são extremamente nutritivos, alguns até com bom sabor. Moscas, larvas, abelhas, besouros e grilos eram, por exemplo, alguns dos 91 tipos de insetos consumidos pelo povo asteca, servidos fritos, assados, secos, fervidos,em molhos ou como condimento. Os invasores espanhóis do século 16 consideraram a prática repulsiva e a proibiram como puderam, mas no México dos antigos astecas a prática sobrevive nos dias de hoje. E nem é preciso ir tão longe: no Brasil mesmo há quem defenda com unhas e, claro, dentes a prática e até empresas que se dedicam à produção de insetos para alimentação, por enquanto voltada para a nutrição animal, mas também com vista para num futuro próximo ser consumidos por humanos.

Uma dessas pessoas é o professor do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), na Bahia, Eraldo Medeiros Costa Neto, que lançou, no primeiro semestre, um livro com coletânea de textos de diversos pesquisadores sobre entomofagia. Ele assegura que, das centenas de milhares de espécies de insetos já catalogadas, 1.780são usadas como alimento por cerca de 3 mil grupos étnicos em mais de 120 países. Os insetos são consumidos como suplemento alimentar, como substituto de outros alimentos em tempos de escassez ou até mesmo como constituinte principal da dieta.

O professor Medeiros afirma que o Brasil tem uma variedade de insetos que poderia ser explorada pela culinária alternativa e no combate à fome, como é tratado em seu recente livro Antropoentomofagia: insetos na alimentação humana, publicado pela UEFS Editora. "No entanto, temos uma cultura alimentar que rejeita, em quase toda a plenitude, os insetos como alimento", diz. Segundo Eraldo Medeiros, insetos comestíveis são consumidos normalmente em outras culturas como em países da Ásia e da África, além de México e Austrália. "Entre outros elementos importantes para a saúde humana, eles são ricos em proteínas, lipídeos, potássio, sódio, zinco e fósforo", afirma.

Entre os insetos do Brasil, Medeiros cita formigas, cupins, lagartos, grilos, gafanhotos, larva de besouro e até larvas de moscas. "O grande desafio é fazer com que a cultura do brasileiro aceite o consumo dos insetos na perspectiva de valorizar esses animais como fonte de proteína", explica, acrescentando que a viabilidade é apenas questão de os brasileiros deixarem de lado o preconceito que têm e o governo enxergar nesse grupo animal uma alternativa econômica e nutricional. "Mas são muitas as barreiras, especialmente quando se considera a cultura existente."

Os insetos são consumidos nos diferentes estágios de seu desenvolvimento: de alguns se consomem os ovos; de outros, as larvas ou então as larvas e pupas; de outros, somente os adultos. Produtos elaborados e/ou excretados por eles, como o mel e o maná, também são largamente consumidos. A maioria dos seres humanos, no entanto, considera o consumo de insetos como prática de "gente primitiva". O problema principal é que, por razões estéticas e psicológicas, muitos insetos são considerados animais nocivos, sujos, transmissores de doenças e vistos como pragas. Ainda de acordo com Medeiros, a repugnância pelo consumo de insetos, muitas vezes alimentada pelos comerciais de televisão que convidam ao uso indiscriminado de inseticidas, faz com que uma quantidade considerável de proteína animal torne-se indisponível àquela parcela da população mundial que sofre com a fome e a desnutrição.

Do DN Online

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